fotografia enquanto documento

quarta-feira, 16 de junho de 2010

florence e a expedição langsdorff


Esse mês os brasilienses têm a oportunidade de conferir parte do material produzido por uma das mais importantes expedições pelo interior do Brasil no século XIX: a expedição Langsodorff.

A expedição patrocinada pelo czar russo e liderada pelo Barão de Langsdorff contou com o trabalho de três primorosos artistas Rugendas, Taunay e Hercule Florence, este considerado um dos criadores da fotografia.

Florence ao longo da expedição usou desenvolveu uma espécie de câmera escura, usada pelos pintores desde a renascença como um recurso para planificar a paisagem Era um momento em que a arte estava presa ao retrato fiel da realidade, especialmente a serviço da ciência. Com o fim da expedição Florance permanece no país e continua o desenvolvimento da camara escura, até que por volta de 1935 começa a imprimir rotulos de remédios e propagandas por meio da sensibilização do papel pela luz, o que é à base da fotografia.


Outro ponto que chama atenção aos visitantes da exposição é o fato de que todo o material exposto é original, esta sendo conservado pela Rússia há mais dois séculos e se encontra impecável, formando uma coleção de registros do Brasil do século XIX que vai da desde as tribos indígenas, o relevo, os mapas hidrográficos, o funcionamento da economia e a fauna.


Serviço:
Expedição Langsdorff
Até 17 de julho
Centro Cultural Banco do Brasil - CCBB
Aberto de terça a domingo de 9h às 21h.

site oficial

quinta-feira, 10 de junho de 2010

fotografia é documento?


Inserida no contexto arquivístico e visando a importância desta para com o seu produtor/acumulador, sim. Mas lembre-se: qualquer documento de arquivo (textual ou imagético) isolado de seu contexto de produção tem sua relevância parcialmente ou totalmente anulada.

A fotografia deixou de ser um mero meio ilustrativo de pesquisa e se tornou matéria prima na produção de conhecimento, mas não possui métodos de trabalho consolidados: imagens são arquivadas ora de acordo com o seu contexto, ora de acordo com os outros meios possíveis (ordem cronológica, agrupados por autor, etc).

Segundo os autores FILLIPI, LIMA e CARVALHO (2002):

"(...) os atributos técnicos e formais da imagem fotográfica assumem um papel relevante no entendimento de questões ligadas à noção de natureza, cidade, progresso, modernidade, morte, infância, indivíduo, identidade, apenas para citar aqueles temas mais recorrentes. Não é por acaso que o incremento na organização de documentos fotográficos institucionais aconteceu concomitantemente à publicação de repertórios e ao crescimento do uso da fotografia como fonte para a pesquisa. Nessa perspectiva, torna-se fundamental, hoje mais do que nunca, a definição de padrões de qualidade na organização e conservação de fotografias em acervos institucionais e na produção de instrumentos de pesquisa."

Ao contrário dos documentos textuais, o trato da fotoimagem como documento de arquivo não está inserido no senso comum, bem como formalidades acerca de sua utilização documental. A comparação do documento imagético com o textual não é viável, visto que são dois meios distintos de difusão da informação, mas que não se sobrepõem. Ao contrário: se complementam.

Em arquivos de documentação administrativa (que servem de referência para os demais), trata-se a fotografia quase sempre como um "anexo", ou um "documento complementar" de ao menos um documento textual.

A metodologia utilizada para lidar com informações imagéticas é uma das grandes causadoras de divergência entre os profissionais e estudantes de arquivo. São inúmeros os debates relacionados à sua classificação, indexação, conservação, preservação, disponibilização para o usuário e, ainda que em um grau menor, sua análise diplomática.

Ao inserir um documento fotográfico em um acervo orgânico, deve-se levar em conta, basicamente, sua classificação, contexto e questões como sua perduração quando atingir o valor secundário. Considerar as particularidades físicas é fundamental no arranjo de documentação fotográfica.

Tratando-se de documentação digital, o pouco interesse acadêmico é ainda mais notório. Essa tecnologia recente gerou um boom na criação de material fotográfico. Refletir sobre questões relacionadas a características intrínsecas de um documento fotográfico, mesmo que digital, pode não parecer viável, visto que suportes eletrônicos permitem a geração de cópias idênticas com facilidade bem como sua difusão quase instantânea. Características diferentes requerem metodologias diferentes.

A fim de possibilitar uma lógica na organização de fotografias em uma instituição, deve-se tratar tanto a fotografia analógica quanto a digital com um zelo ainda maior que uma documentação textual administrativa demandaria: há clara necessidade de classificação, indexação, referências cruzadas, alocação apropriada, etc. Todo um universo de critérios pode ser levantado. Quais vocês, arquivistas, adotariam?

Referências:
Como Tratar coleções de fotografias - Patrícia de Filippi, Solange Ferraz de Lima e Vânia Carneiro de Carvalho (2002);

A teoria dos arquivos e a gestão de documentos - Ana Márcia Lutterbach Rodrigues (2006)